quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Território Centro - Proença a Nova (1ª Etapa) a.k.a A Minha Primeira Ultra !!!


No fim de semana de 10-01 foi dado o tiro de partida para a estreia da equipa de Trail Correr Lisboa/Forté Pharma Portugal. O grande momento deu-se em Proença a Nova, na primeira etapa do Circuito Território Centro, organizado pela Horizontes. Esta prova tinha duas distancias 26 Km ou 47 Km. Foi a minha estreia numa Ultra-Maratona mas também a minha estreia na distância da Maratona.

Mas adiante... Vamos ao que interessa. Partida de Lisboa agendada para 6ª feira a tarde com destino a Proença-a-Nova para levantamento de dorsais. A coisa não começou bem. Eu e o Xico tínhamos a nossa boleia a espera e já estávamos em cima de hora. Quando chegamos a Entrecampos apercebo-me que não tinha o telemóvel - equipamento obrigatório para a prova. Decido optar por dar uma olhadela na mochila que estava no porta bagagens quando um semáforo ficasse vermelho. Rapidamente abro a porta do carro sem olhar pelo espelho. Ia sendo passada a ferro por uma mota que acabou por se assustar e bater no carro. Apenas um susto. Ninguém ficou magoado e o carro também não ficou com nenhuma mazela. Não consegui encontrar o telemóvel. Tivemos de dar meia volta e regressar a casa. Quando chego a casa encontro finalmente o telemóvel. Rapidamente regresso ao carro e seguimos. Chegamos um pouco atrasados e estragamos a hora prevista de partida. Mochilas e restante tralha trocada de um carro para o outro e ai vamos nós.

Chegados a Proença fomos jantar, levantar os dorsais e nova viagem, desta vez mais curta, até Oleiros, que será a nossa base para as 4 etapas do Circuito Território Centro: Proença a Nova, Vila Velha de Rodão, Vila de Rei e Sertã. Iniciou-se a preparação do equipamento porque a alvorada seria bem cedo, por volta das 6:30h, e de seguida uma boa noite de sono.


Nessa noite e por estranho que possa parecer não me senti nervosa. Talvez porque ainda não tivesse consciência do que me esperava ou talvez porque o "clique" ainda não se tivesse dado. Dormi bem e na manhã seguinte a mesma sensação de tranquilidade. Agora já começava a estranhar... Tomamos o pequeno almoço e seguimos em direcção a Sobreira Formosa, onde estaria a partida e a meta. Quando entramos no carro que estava cheio de geloverificamos a temperatura ambiente: -3,5ºC. Auchhh... Ao chegarmos ao local da partida ouvimos o briefing e fizemos o controlo zero. Tudo a postos para a partida. Uma foto para a posteridade e aqui vamos nós. Eramos cerca de 185 atletas nas duas distâncias e a partida é dada as 9h. Pensei abordar a prova com muita calma. Nada de grandes speeds que ainda ha muiiiiiiitooooooooo caminho a percorrer. 

O primeiro ponto de interesse por onde passamos foi a cerca de 3/4 Km de Sobreira Formosa - a Praia Fluvial da Fróia. Tivemos oportunidade de passar por cima da barragem e de ter uma vista espetacular sobre a praia com as suas casas de Xisto. Passamos depois por um marco geodésico na zona da Serra da Venda antes da separação da prova de 20 Km e 47Km de onde se tem uma bonita vista.



De seguida passamos por uma zona de levadas e e pequenas cascatas onde foi possível sentir a "frescura" gélida da agua. O primeiro abastecimento era aos 15,4 Km já em Alvito da Beira, uma vila com gente bastante simpática. Os velhotes riam-se com a nossa passagem e chamavam-nos doidos quando explicávamos para onde íamos. No abastecimento não faltou nada. Estava muito completo com direito a sopa e a papas de caroulo, um doce típico da região centro.

Até este abastecimento tive companhia de uns senhores que se tinham perdido mas a partir daqui fiz a prova TODA sozinha.



Passei pelo abastecimento liquido aos 23 Km. Pergunto se era a ultima, ao que o rapaz me respondeu que não. Ainda estavam 2 senhoras atrás de mim. O meu objetivo para esta prova era apenas e só chegar ao fim e de preferência dentro do tempo obrigatório para conclusão da prova: 10h. Estava mais ou menos a meio e achei que se tudo continuasse como até ali talvez conseguisse terminar dentro do tempo limite. 

Aqui começou a verdadeira batalha mental. Nunca imaginei conseguir gerir tão bem esta parte mas acho que a descontração com que abordei a prova deve ter ajudado. Estava a sentir-me cada vez melhor. O próximo abastecimento sólido seria dali a 8 Km em Catraia. Passamos por mais uma praia fluvial espetacular que parecia um espelho em Cerejeira. 

Chegada ao abastecimento de Catraia ao Km32 tenho a noticia que as outras duas senhoras tinham desistido e que estavam apenas a minha espera para arrumar o abastecimento. E assim me tornei a ultima. Os voluntários que estavam no abastecimento deviam estar a apanhar a maior seca da vida deles e quando me viram devem ter gritado por dentro FINALMENTE. Estava a cerca de 10/15 minutos dos senhores que me deixaram para trás no primeiro abastecimento. 

Sabia que ao Km35 encontraria a pior subida. O que não sabia era que iria encontrar uma paisagem fora do vulgar. A vista do posto de vigia florestal da Serra das Talhadas a 600 m de altitude é incrível.




Não consegui subir ao posto porque não tinha tempo... :) mas diz-se que quando o dia está limpo, como o que estava no sábado passado, é possível avistar a Torre na Serra da Estrela que se encontra a cerca de 100 Km de distância. 

Agora era aproveitar a descida até ao abastecimento dos Montes da Senhora a 39 Km de prova. Ai fui espetacularmente bem recebida pelas pessoas da vila e pelos membros da organização que queriam perceber se eu estava bem e em condições para continuar. Estava óptima e pronta para atacar os últimos 7,7 Km.



Coloquei o frontal (gentilmente emprestado pelo Tiago Rodrigues) porque o sol já se estava a por e segui caminho. Estes foram os Km mais importantes. Percebi que iria chegar bem antes das 10h de tempo limite. Uffff que alivio. Os malandros ainda tinham preparado mais duas subidas antes de chegar a Meta. Brincalhões. Quando atingi a distancia da Maratona dei um berro no meio da floresta. Não sei se alguém ouviu mas de certeza que foi uma ajuda para afugentar os animais que com o normal cair da noite se começam a aventurar pelos arbustos. Não sei que animais eram mas esses Km foram feitos sempre a olhar em frente sem verificar que bichos estariam a remexer a terra atrás dos medronheiros... 

Quando dei por mim já estava a sair dos trilhos e a entrar em Sobreira Formosa sem precisar de ligar o frontal. Chego então a um pequeno largo onde vejo o Xico da Boina e o amigo Luzio a minha espera perto da meta. Passei então a meta com um tempo de 8h31. Perceber que tinha conseguido concluir esta prova sem dores e sem mazelas fez-me sentir nas nuvens.




Foi sem duvida um dos momentos mais importantes da minha vida. O facto de fazer a prova sozinha fez-me pensar em muita coisa e isso fez-me bem. Cantei, ri-me muito e disse alguns palavrões. Tive o privilégio de passar por sítios lindíssimos e por locais onde tenho a certeza que nunca passaria se não fosse o facto de me meter nestas aventuras. Conheci o verdadeiro Portugal profundo. 

Este pequeno (grande para mim) feito dedico-o ao Correr Lisboa mais precisamente ao Bruno e a Sandra. Tal como já referi uma vez se não fosse a motivação deles quando comecei a correr se calhar agora a corrida já não estaria na minha vida. Agradeço também o facto de terem acreditado em mim para representar o Correr Lisboa na equipa de trail Correr Lisboa/Forté-Pharma. Espero não vos desiludir.


Dedico também este feito ao meu guia e atleta favorito "Xico da Boina" por todo o apoio e força.



Para acabar deixo-vos com um dialogo que tive com uma sábia senhora pastora com que me cruzei algures pelo caminho e que parecia a pessoa mais serena do mundo:

-"Olha lá rapariga, onde é que tu vais a correr a esta hora?"

- "Vou para Sobreira Formosa? Acha que ainda lá chego hoje?"

- "Chegar chegas... Mas os teus amigos já passaram aqui de manhã..."

- "Então já vou atrasada!!"

- "Não. Só apreciaste melhor os sitios por onde passaste. Saúde e força".

Fiquei deliciada. Aqui está ela: